Costumamos colocar a responsabilidade da destruição de nossos paraísos naturais em tudo, menos em nós mesmos. Num feriado de Semana Santa, em um breve passeio à Praia do Sono - Parati RJ constatei a preocupante relação que o turista vem adotando frente a natureza.
Mais do que a beleza do lugar, a minha indignação frente ao que vi superou a minha emoção de estar num lugar tão belo e sagrado. Embora eu fosse uma das pessoas mais velhas ali, vi dezenas de jovens com atitudes bem mais velhas e ultrapassadas que os meus mais antigos antepassados. Acredito, inclusive, que os homens das cavernas tivessem atitudes mais ecologicamente corretas.
Dizem que pessoas desinformadas e carentes de uma boa educação poluem o ambiente, no entanto, a grande maioria dos jovens que ali estavam, se não a totalidade deles, eram, com certeza, estudantes universitários de médio a alto poder aquisitivo. Fiquei pensando... Será que estes jovens nunca ouviram falar em preservação ambiental? Que educação falta a eles? Falta educação acadêmica ou de berço? Talvez não falte educação; talvez falte consciência, sensibilidade e ética. Aposto, que a grande maioria possui um discurso ecológico maravilhoso, no entanto, incoerente com suas atitudes ecológicas. O que será que aborta esta consciência? Numa praia quase deserta, deserdada pelos poderes públicos, que fingem não perceber este crime ambiental cometido pelo turista viciado na cultura do prazer a todo custo, quem paga os custos é própria natureza. O que acontece na Praia do Sono, acontece em outros paraísos semelhantes e em outros que deixaram de ser por conta da nossa cegueira. Na falta desta cegueira, me doeu enxergar o que a grande maioria não quer ver. Eu vi o que acontece, hoje, em Copacabana, Ipanema, Flamengo, enfim, em toda praia superlotada da costa brasileira. Vi o desejo de usar suplantar totalmente o desejo de cuidar. Se cuidar é pedir muito, talvez, possamos, no mínimo, preservar. Se a incapacidade de cuidar não viesse acompanhada por atitudes destrutivas, tudo bem! Menos mal! No entanto, o que assisto é um verdadeiro estupro da natureza. Um bando de pessoas com atitudes perversas invadem, usam e abusam de quem não pode sozinha se defender. Pode parecer duro demais o termo perverso, mas, como poderíamos conceituar atitudes de gozo alicerçados pelo desrespeito e total falta de limites?
Como você agiria se alguém invadisse a sua casa e despejasse lixo na sua sala de estar ou mesmo no seu quarto? Eu não sei o que você faria, mas sei que a natureza nada pode fazer face estas atitudes. A natureza espera que possamos tomar as atitudes corretas para protegê-la, mas, muitas vezes preferimos fechar os olhos e fingir que o lixo não é nosso.
É agradável tomar uma cervejinha na praia, mas totalmente abusivo jogar a lata no leito de um rio de águas límpidas e em matas virgens . Assisti este abuso vindo de rapazes e moças lindas, tipo comercial de TV – o que demonstra que a beleza não salva as pessoas da ignorância, irresponsabilidade e alienação. Fumar atinge apenas a sua saúde desde que você saiba fumar de forma “consciente”. No entanto, jogar a guimba na areia só parece normal para quem não tem um mínimo de consciência. O pior é constatar que a grande maioria dos fumantes não jogam sua guimba no lixo. O lixo orgânico pode até se decompor mais rapidamente, mas será que precisamos conviver com esta sujeira? Como o sujão se sentiria se o bagaço de melancia que encontrei nas areias da Praia do Sono fosse jogada dentro da sua própria bolsa? Seria, no mínimo, incômodo e nojento, não seria? E as sacolinhas plásticas? Não pude deixar de pensar se não foi a responsável pela morte de uma enorme tartaruga que encontrei nas areias desta praia. Linda, porém, morta. Tenho muito receio que esta seja mais uma praia ameaçada de morte em nosso litoral. Se nada for feito, esta não será mais a Praia do Sono daqui a 5 anos. O turismo sem consciência, planejamento e organização há de mata-la. E, quando acordarmos deste pesadelo, talvez seja tarde demais!
Para evitar os abusos precisamos manter a nossa vigília na Praia do Sono e em qualquer outra. O maior policiamento deve vir de dentro de nós mesmos. Ainda há tempo para limpar a sujeira e o mais importante – Não sujar ainda mais! É hora de acordar! E, acordado, poder finalmente dormir um sono profundo com a consciência tranquila.
Cláudia Luiza
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